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10 de fev. de 2010

A primeira prova a gente nunca esquece

Conforme disse no post anterior, publico aqui o relato da primeira corrida que participei. Me emociono toda vez que leio...

"04/11/2008

Eu CORRIIIIIIIIIII!!!!
Foi maravilhoso....
Chegando lá, fiquei bastante deslocada, pois havia muitos atletas. Mas não me intimidei. Desci do carro, ainda com chuva. Havia caído uma tempestade minutos antes de eu chegar, o que amenizou o calor. Ao menos com o sol eu não teria que competir. Eu tinha costurado uma faixa em cada lateral da minha camiseta, porque ela estava muito justa, e temia que ficassem me olhando, mas ninguém táva nem aí comigo... rsrsrs. Eu não via nenhum obeso, mas alguns gordinhos. Senhoras, senhores. Gente de cabelos brancos e pele enrugada. Gente saradíssima, homens e mulheres. Jovens de menos de 20 anos, muitos. Fiquei por ali, meio escondidinha, sem saber direito o que fazer. Descobri que teria que pôr o chip no tênis, e o aninhei no cadarço. Comecei a me alongar, e por causa da chuva a largada foi sendo adiada. Depois era o trânsito que estava congestionado, e a companhia de tráfego estava com dificuldades de organizá-lo, por conta de um acidente no início do nosso percurso. Todos já estavam preparados pra largar, comecei a conversar com duas senhoras. Uma de minha categoria (30 a 39 anos) e outra de uma categoria acima (40 a 49 anos). Ambas corredoras, uma gordinha e a outra magra. Falando de suas conquistas, quantas horas de treino por dia, quantos dias por semana, quantas provas. Em um dado momento uma delas olhou pra mim de cima a baixo, e me perguntou se eu iria conseguir terminar a prova. Eu disse que sim!!! E completei dizendo que era a minha primeira corrida. Quando eu disse que estava 11 quilos mais magra elas se espantaram bastante e logo em seguida a largada seria dada. Foi uma emoção enorme. Primeiro a oração, dirigida por um padre, e em seguida a largada dos cadeirantes. Palmas. Outro apito e a nossa largada, mais palmas! Passei pelo portal, os piiis do sensor gritavam para tantos chips passando por ele. E lá fomos nós.
Já no início uma subida... Ahhh.... Fui ficando pra trás, bem perto dos batedores, mas não sozinha. Uma senhora de mais de 60 anos, e outra gordinha ficaram ao meu lado. Mais atrás vinha um casal. Acabada a subida, uma descida. O povo ia lá longe, e deslocados do pelotão como eu um rapaz bem acima do peso e uma senhora de cabelos branquinhos estavam uns 100m a minha frente. A essa altura os batedores já não nos acompanhavam. E corríamos bem perto dos carros, ouvindo as gracinhas. "Vamos lá, gordinha!". Eu pensava que não desistiria por nada.
E fui fazendo o percurso, e já na segunda subida, uns 3 km a frente, minhas companheiras foram sumindo, passaram a caminhar. Eu não deixava de trotar nenhum minuto, mesmo nas subidas. Estas foram super desgastantes, mas eu estava firme. O gordinho e a senhora da frente, eu avistava de vez em quando: eu fiquei sozinha. Mas sabia que estava no caminho certo, pois ia atrás do trânsito congestionado e também porque havia memorizado quase todo o percurso. Os carros passavam bem pertinho de mim, e algumas pessoas gritavam, faziam graça. Um carro preto passou, e o motorista gritou "Não desiste não, vamo lá!!!" Eu senti vontade de chorar, mas resolvi não deixar a emoção tomar conta de mim. No final da subida, virei à direita para fazer alguns metros e voltar, segundo o percurso. Um carro prata passou, e o idiota gritou "A corrida é pra lá!". Eu agradeci, com vários oks, e espero que ele tenha ao menos se ressentido da brincadeira besta.
Mais a frente, uma moça passando mal. Alguns outros corredores junto a ela, esperando a ambulância. Eu sentia dor no baço, levemente, mas nada que me impedisse de continuar. Talvez o esforço da subida longa. Fiz a volta e percebi que havia gente atrás de mim ainda, entre eles um senhor bastante obeso, trotando bem devagarzinho. Continuei seguindo, fazendo o percurso, perguntando aos transeuntes aqui e ali sobre o caminho que os corredores haviam seguido, para não me perder. Uma certa hora percebi que eu estava bem devagar... Resolvi apertar o passo, e a noite já começava a cair. Encontrei outra moça passando mal, uma garota bem novinha. Devia estar com a mãe. A ambulância passou por mim e veio outra subida. Mas eu já estava bem, nem suava tanto, e a freqüência cardíaca estabilizada. Apertei o passo novamente, porque o final já estava chegando. Vez em quando eu pegava um ou dois copos de água, nos pontos de apoio, e ficava aliviada de não ser a última. Ao chegar na penúltima rua fiquei de novo com vontade de chorar, mas segurei. Um cara na rua gritou: "Só falta um quilômetro e meio!". Já era de noite, e eu fiquei animada pra última subida. Fiz a curva e já estava na Arena, onde tudo começou. Um atleta de uns 50 anos me deu um copo d'água e me deu parabéns. Já estavam fazendo as premiações, e havia muita gente à frente do portal, mas eu fui me esquivando e pude ouvir o piiii do meu chip passando pelo sensor. Algumas lágrimas quiseram sair, eu abaixei a cabeça e sorri, extasiada. Não chorei propriamente, mas deixei a emoção fluir. Fui nas mesas ao lado, devolvi o chip, peguei minha identidade e uma medalha de participação. Minha primeira medalha da vida. Um prêmio pelo que eu fui capaz de fazer. E a primeira de muitas outras.
Ainda fiquei por ali, vendo as premiações, a alegria de todos, e continuei super emocionada. Na volta pra casa, no carro, eu ria sozinha, beijava a minha medalha, as lagriminhas misturadas ao suor do rosto. Quando cheguei em casa minha vizinha veio me dizer que me viu na tv, correndo. Eu nem percebi que tinham me filmado! Agora um monte de gente (entre eles alunos e pacientes) saberão da minha empreitada. E ficará confirmado o quanto eu estou mudando de vida.
Se você conseguiu ler este post todo, já é um começo. E eu digo que somente quando você acordar será capaz de mudar a sua vida. Eu ainda tenho um longo caminho a percorrer, mas já posso dizer que acordei. E só estou começando!"

9 de fev. de 2010

"Correr Pra quê? Emagrecer" ou "Loucuras que fazemos"

No ano de 2008 eu iniciei na corrida meio sem querer. Foi exatamente no dia dos Professores. Já que teria folga e já vinha decidida a finalmente mudar de vida, fui para a academia do campus da universidade onde trabalho, mas ela também estava em recesso. Em casa a luz havia acabado, então não dáva pra caminhar na esteira. Fiquei lá pelo campus mesmo, e achei que a caminhada estava muito sem graça. Resolvi trotar. Fiquei uma hora dando voltas pelo campus, e ao terminar eu me senti dona do mundo!
Pra demonstrar a loucura que cometi dias depois, vou publicar aqui o trecho de um post que fiz em outro blog, onde postava "anônima":

"Hoje tenho um enorme desafio pra contar pra vcs...
Eu me inscrevi em uma corrida de rua!!!!! É a 53a Corrida de Rua Henrique Archer Pinto, super tradicional aqui.
Será amanhã à tarde... Eu vi a propaganda na televisão e fiquei pensando... Fui ao dentista ontem e passaria na frente do local das inscrições. A moça que fez a minha inscrição achou que eu estava fazendo pra outra pessoa... rsrsrs. Afinal, eu devo ser a única obesa a querer participar de uma corrida de rua! Mas fiquei muito feliz porque acabo de sair da obesidade classe II para a classe I!!!!!!!!!! E pensar que quando comecei estava chegando no grau III!!! Ai, que alegria!!!!
E participar da corrida será uma nova superação!
Para treinar, hoje eu fiz 10km na esteira (é o percurso da corrida que farei). Levei 84m27s para fazer essa distância. Mas na rua o negócio é outro... Subidas, descidas, buracos, e o pior: sol!!!! E o sol da Amazônia não é brincadeira! Bem, há 3 possibilidades:
a) Eu desistir antes do final
b) Eu levar 2 hooooras pra chegar ao final, e
c) Eu pisar num buraco ou chutar uma pedra
Em qualquer uma das possibilidades, vou ficar feliz, pois não tenho nada a perder!
O meu treino de hoje serviu pra ver que eu sou capaz. Vamos ver lá na hora. Amanhã eu conto!"

Sim, eu fiz minha primeira corrida de 10km exatamente 15 dias depois que comecei a trotar. Passei de sedentária/obesa a corredora neste pequeno prazo. Pra piorar, eu fiz um "teste" pra saber se conseguiria um dia antes, na esteira... Fiz tudo isso sem saber que era loucura. Na verdade era uma superação pessoal, um desafio que fazia parte da minha meta de perder peso. Bastante tempo depois é que vim entender que precisava de treino, preparação, cuidado.

Hoje, quando alguém me pergunta como fazer para começar a correr e me questiona como eu fiz, eu conto, mas já digo de cara que comecei completamente errado. Não me orgulho do que fiz, mas entendo. Tive sorte de não ter tido nenhuma lesão, de não ter dado um revertério que me fizesse detestar a corrida e nunca mais praticar. Mas por outro lado descobri o poder que tenho sobre meu corpo e o quanto ele é resistente. Percebi como, em mim, o fator emocional supera o físico. Agora sou capaz inclusive de entender porque não senti as dores da cirurgia pós-parto. A alegria e a felicidade são analgésicos naturais.

E se eu comecei a correr com o objetivo de emagrecer, fico muito contente que tenha encontrado o caminho certo. Por esse caminho tenho superado muitas outras coisas, tenho curado vários outros males, e tenho aprendido muita coisa sobre mim e sobre outras pessoas.

Depois publico aqui o relato emocionado daquela primeira corrida. Mas já aviso: não faça isso em casa. Se quiser começar a correr, faça do jeito certo. Se já corre, lembre-se sempre de não cometer loucuras.

1 de fev. de 2010

Prova 13 - Cross Country FEAMA - dia 30/01/2010


Fiquei sabendo dessa prova 2 dias antes, através de um conhecido de meu marido. Fiz a inscrição na escondida Federação Amazonense de Atletismo (FeAmA), que fica embaixo da arquibancada da pista de atletismo da Vila Olímpica de Manaus. Li num recorte de jornal afixado próximo ao bebedouro que está atolada em dívidas e sendo totalmente reformulada, com um pool de outras associações assumindo a direção.
Nunca fiz uma prova num sábado, por causa do trabalho. Como ainda não recomecei os atendimentos nesse dia, estava lá para fazer a minha primeira prova do ano. Pouquíssimas pessoas, menos de 150 participantes. Só elite... Carinhas conhecidas de outras corridas. Alguns peixes fora d´água, como eu. Ainda me sinto bastante deslocada, principalmente nestas provas com poucos participantes. Primeiro pela obesidade. Segundo pela velocidade, o que é uma consequência do primeiro motivo. Mas já superei a vergonha e tô sempre lá. Aparece prova, eu tô dentro!
Mas essa era Cross Country! Nunca tinha feito uma prova desse tipo, e nem imaginava como seria dentro da Vila Olímpica. O papel da inscrição anunciava 10k, mas ao passar as informações, um dos organizadores retificou: percurso de 1800m, sendo 2 voltas para categoria juvenil, 4 voltas para as mulheres e 5 voltas para os homens. Total de 7200m para percorrer. Explicou o percurso.
Começamos a correr na pista de atletismo, que é ma-ra-vi-lho-sa! Não sei porque eu ainda não fui até lá pra treinar! (síndrome de peixe fora d´água de novo?). Só o começo foi na pista, cerca de 100m, e logo uma curva para a direita numa suuuper rampa na grama. Depois da descida no mesmo trecho, contornamos a pista sempre pela grama, e chegamos a um terreno lateral à pista. Um barranquinho aqui e ali, o mato cortado ainda no local, mostrando o recente preparo do percurso. Por isso o trecho era fofo, o que o tornava algo perigoso. Depois um pequeno trecho no asfalto, até atingir outro pequeno barranco que desembocava no que chamaram de Bosque da Vila, uma área com algumas trilhas e muuitas árvores, com suas gigantes raízes espalhadas pelo chão. Passávamos por tubulações e trechos enlameados pelo inverno amazônico (leia-se período de muita chuva). Depois do ponto de água onde um senhor incentivava cada um que passava por ele, subimos o barranquinho e cruzamos a mesma rua para chegar novamente ao terreno lateral à pista e voltar a contorná-la, sempre pela grama. O percurso terminava próximo ao ponto inicial, e daí começava tudo de novo até completar todas as voltas.
O tempo estava nublado, mas o calor era o de sempre. Correr na relva é complicado... A minha perna pesava, e lá pelo meio da segunda volta meu pé esquerdo começou a formigar. Fiquei apreensiva de "quebrar", termo que já ouvi e li em muitas fontes. Mas depois melhorou e voltou a formigar só no final. Isso deve ter relação com a pisada, sei lá... Preciso estudar mais sobre o assunto.
É claro que eu fui a última. Bem, na verdade a penúltima, porque fui a última mulher, mas houve um homem que terminou depois de mim (um operado bariátrico que sempre está nas provas). Os aplausos foram pra ele, dessa vez não para mim (risos). Fiquei contente porque tinha medalha pra todo mundo! Ah, e a camiseta me serviu!
No final esperei a festa do pódio, e apreciei os sorrisos, os cliques das fotos, todo mundo feliz com suas conquistas. Inclusive eu. Voltei pra casa com a minha nova medalha no pescoço. A primeira de 2010!