E eu completei a Golden 4 Asics etapa Brasília com uma emoção que não esperava.
Cada um sabe a dor e a delícia de ser corredor. Da minha dor faz parte a luta contra a preguiça, o suor que desprende do corpo e encharca a roupa no calor de Manaus, a subida de trocentos % de inclinação que acaba com as pernas, as horas semanais de treino noturno visando pequenas metas. Da minha delícia faz parte agora mais uma história de viagem cansativa, de encontro com amigos e de glória na chegada.
O vôo de Manaus a Brasília foi curto, direto, mas nem por isso consegui descansar. A véspera foi agitada com consulta médica e depois arrumações em casa (tive a brilhante ideia de trocar de ambientes dois móveis carregados de coisas, o que me custou horas de realocação de objetos, livros, papéis, TV, DVD, fios e etc.). Ao invés de dormir um pouco antes de embarcar, fui preparar presentinhos para levar. No vôo até quis dormir, mas a adrenalina não permitiu. Chegando a BSB bem cedinho, o tempo voou, e a tarde de dobras com os
Origamigos de Brasília foi ótimo para compartilhar muito afeto com amigos novos e antigos, e também para amenizar a ansiedade. Mesmo estando no ar há 36 horas sem um minuto sequer de sono fui ao Jantar de Massas dos
Twittersrun, e pude entregar um pedacinho de carinho em forma de bombom amazônico para cada um que compareceu.
A noite de descanso na casa da amiga Lus foi ótima. às 6 da manhã lá estava eu pronta pra mais um desafio. Com bastante receio de estourar o tempo da prova em função de meus treinos longos terem sido verdadeiramente "longos", mas confortada pelos comentários de um percurso bem rápido, estava pronta. O clima estava muito agradável para quem treina na umidade de 90% e na temperatura noturna de 30
ºC.A hidratação a cada 3km dava um ótimo suporte.
O percurso leve me ajudou a bater o recorde pessoal mundial nos 10km. E aí as emoções (pra variar) foram tomando conta. Os pensamentos viajaram. E só pensava que sim, ia dar pra terminar. Serntir a moto de apoio e a ambulância logo atrás de mim como há algum tempo não sentia me deixou incomodada, e me lembrou o tempo do começo, quando isso era regra. Mas pensei que se tinha que ser assim, então que assim fosse. Porém, tinha pernas pra subidinha final e consegui me livrar deles, e consequentemente do último lugar. Faltava pouco mas percebi que o batimento cardíaco estava aquém do que eu poderia. "Força, Cáu, só falta um km".
Faltando poucos metros pra chegada avistei alguns Twittersrun, o que já me deixou emocionada, por saber que me esperavam. Acenei, tiraram fotos, me incentivaram, e segui. Para minha surpresa, Cintia chegou e perguntou se poderia terminar comigo. "(Como assim?) Claro que pode!" O coração já foi à mil e já comecei a chorar. Última curva, 500m finais. E então eu vi uma camiseta Twittersrun se aproximar. E depois outra. E outra. Às vezes eu percebia quem era, às vezes só divisava a camiseta, sem conseguir perceber a pessoa por causa do choro. E eles foram se juntando à mim no finalzinho. Anderson falava comigo calmamente, dizendo "Calma, olhar no horizonte, sorria". Eu ouvia outras coisas, mas não via nada. Achei que o coração fosse explodir e quis dizer que era uma honra tudo aquilo, mas as palavras não saíam. A única coisa que consegui dizer foi um "Obrigada, gente". 300m, 100m, o pórtico logo ali. Ouvi por todos os lados gritarem "Twittersrun! Twittersrun!" e passei pela chegada. A emoção gigantesca de botar mais 21km na conta. Mais uma medalha. Mais uma volta pra casa e outra história pra contar. Mais uma vez a confirmação de que a corrida não tem cor, nem gênero, nem tamanho. A corrida é de todos. A corrida é pra todos nós.
Obrigada, Twitersrun.
"Não importa se você chega em primeiro ou em último. Importa que você terá uma história pra contar."
Algo quase assim estava escrito em uma placa pelo caminho.